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Palestras de Rafael Sanz-Espert e de João Augusto Frayze Pereira no último dia do Seminário Ibero-Americano no SESC Consolação

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Foto: Waldo Lao

Maestro espanhol e psicanalista brasileiro falaram sobre as bandas de música e a experiência com as artes

O último dia de atividades abertas ao público do Seminário Ibero-Americano de Educação Musical e Inclusão Social, quinta-feira 12 de novembro, foi iniciado com as palestras do maestro espanhol Rafael Sanz-Espert, que abordou “As Bandas de Música: uma realidade sociocultural”, seguida pela fala do psicanalista brasileiro João Augusto Frayze Pereira, com o tema “Sobre a experiência com as artes: a questão do pensamento sensível”.

Rafael Sanz-Espert, maestro formado em bandas de música na Espanha, diretor da Banda Municipal de Bilbao e que já foi regente titular de mais de uma dezena de bandas na cidade de Valência, discorreu sobre aspectos inerentes a diversos países da ibero-américa, que têm nas bandas de música um importante veículo de formação de instrumentistas.

“Em grandes orquestras brasileiras, como a Osesp – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, muitos dos instrumentistas de metais e madeiras foram formados por bandas do interior do país”, afirmou Ricardo Apezzato, coordenador pedagógico e regente da Banda do Guri Santa Marcelina. No sábado, dia 21 de novembro, o maestro espanhol irá reger os guris em um ensaio da Banda. “Quanto mais experiências tiverem com pessoas de visões musicais diferentes, melhor. Isso amplia as possibilidades de visão e de repertório, gerando um enriquecimento para os meninos”, revelou Ricardo.

O regente assistente da Orquestra Jovem do Estado, Luis Fidelis, concorda que será uma grande experiência para as crianças e jovens do Programa Guri Santa Marcelina. “Para eles que estão começando nesse meio, será uma ótima oportunidade de trabalhar com alguém como Rafael Sanz-Espert. Acredito também que o maestro irá se surpreender com o nível dos jovens instrumentistas”, ponderou Luis Fidelis.

Em seguida, o psicanalista João Augusto Frayze Pereira realizou a sua palestra, que abordou a importância da experiência estética e levantou questões sobre o que é a arte: “Não é qualquer manifestação que é arte. A arte supõe projeto“, disse. Frayze ainda revelou a importância do contato com a arte: “A arte é movida pela esperança de transformação e desperta no sujeito algo adormecido”.

A palestra de João Augusto Frayze Pereira foi a última do ciclo do Seminário Ibero-Americano de Educação Musical e Inclusão Social.

Entrevista: Ana Tomé

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Foto: Waldo Lao

Para o Centro Cultural da Espanha em São Paulo e para a AECID, qual a relevância do Seminário Ibero-Americano de Educação Musical e Inclusão Social?

Os Centros Culturais da Rede de Cooperação Cultural da Espanha têm um papel fundamental como articuladores e como propagadores de iniciativas que já estão acontecendo ou que querem acontecer. Nesse sentido, é muito importante termos conseguido, ao lado da Santa Marcelina Cultura e do SESC-SP, criar uma situação na qual é possível o intercâmbio de conhecimentos. Consideramos o Seminário Ibero-Americano como um dos destaques da programação desse ano do Centro Cultural da Espanha em São Paulo.

Qual a importância do intercâmbio entre os programas envolvidos no Seminário?

Temos uma rede própria de Centros Culturais, a Rede de Cooperação Cultural da Espanha, que é um exemplo para nós, fazendo com que acreditemos ainda mais no trabalho em rede e no conhecimento mútuo. Neste Seminário outros Centros Culturais da Espanha, de países como Paraguai e Uruguai, também colaboraram, possibilitando a vinda ao Brasil de palestrantes e programas. Nossa função não é exatamente criar redes, que devem ser geradas espontaneamente pelos programas, mas sim criar as circunstâncias nas quais essas redes possam surgir. O Seminário Ibero-Americano é, sem dúvida, uma dessas circunstâncias.

As experiências particulares e as peculiaridades de cada programa podem servir de exemplo aos demais?

Sim, até porque os problemas dos programas são muitas vezes similares. A dificuldade é justamente o encontro, a reunião, especialmente quando os programas são de países pequenos nos quais os organizadores têm poucos colegas com quem compartilhar experiências e conhecimentos, e em países grandes como o Brasil, que tem uma grande diversidade cultural e social e que é geograficamente imenso e variado. Nesses casos, é comum um programa desconhecer que outros passam pelos mesmos problemas, para os quais por vezes já foram encontradas soluções. Se conhecessem uns aos outros, não precisariam desperdiçar energia pensando em uma solução, uma vez que aquela que já foi experimentada funciona. Ideias de um podem ser úteis para os outros. Oportunidades como o encontro promovido neste Seminário são muito práticas.

Estamos aqui para traduzir, para levar a prática à declaração de princípios. Mais do que falar sobre o direito à cultura, à diversidade, à criação, é preciso criar as condições para que isso aconteça. Trabalhamos nesse sentido junto com os nossos parceiros e é por isso que espero que esse Seminário tenha continuidade, não obrigatoriamente como um encontro presencial, mas sim como espaço de conhecimento comum. Hoje em dia existem diversos meios de comunicação para manter-se o contato. Com esforço, organização e vontade, não tenho dúvidas que os contatos estabelecidos aqui vão dar frutos.

Você acredita na música como ferramenta de inclusão e transformação social?

Acredito em todas as áreas de criação como caminhos de transformação individual, primeiro elemento necessário para uma transformação social. A música é um dos caminhos mais óbvios para isso, porque sensibiliza tanto os praticantes como o público, de uma forma espontânea, mais ingênua e menos premeditada que em outras áreas, que exigiriam um esforço maior. Não devemos colocar em compartimentos fechados as áreas de música – a popular para o povo, a culta para as elites. A música é um instrumento fundamental, ainda mais em um país tão rico em sonoridades como o Brasil.

Entrevista: Danilo Santos de Miranda, SESC-SP

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Foto: Waldo Lao

O que representa para o SESC-SP o Seminário Ibero-Americano de Educação Musical e Inclusão Social?

É uma grande oportunidade de encontro entre instituições de interesses próximos, comuns, que pretendem ser protagonistas no campo da educação, e mais especificamente no campo da educação por meio da música. Portanto, trata-se fundamentalmente de criar mecanismos para que instituições, que adotam essa diretriz, possam melhorar o seu desempenho, a sua atuação nesse campo.

As instituições envolvidas na realização do Seminário possuem a educação como foco de suas ações. Você acredita que a educação musical pode transformar a realidade social das pessoas e dos países?

O SESC é uma instituição que tem a educação como uma questão central, assim como a Santa Marcelina Cultura, por exemplo, no Guri Santa Marcelina e em seus demais programas. Gostaria de deixar claro que são instituições que poderiam estar há mais tempo juntas e que não estiveram por falta de oportunidade. O SESC vê a educação de uma maneira abrangente, à qual a cultura e outras iniciativas que agregam valores, respeito e aumento de conhecimento trazem uma contribuição fantástica.

A música é uma das manifestações mais típicas e mais importantes de nossa realidade. Ela consegue transportar, desenvolver, melhorar e tornar as pessoas mais solidárias. Portanto, é um instrumento absolutamente indispensável para que seja possível melhorar o mundo.

Nesse sentido, qual a importância do intercâmbio entre os diversos programas que integram o Seminário?

É muito importante, porque dessa forma é possível criar uma rede de cooperação. Acredito que não basta fazer bem feito, é preciso mais, ou seja, é necessário conhecer as iniciativas dos outros que também procuram trabalhar da melhor maneira possível. Essa sinergia pode tornar melhor o desempenho e os resultados obtidos por todos. Esse é o grande segredo.

Introdução

No Brasil e em diversos países da América Latina há um significativo crescimento, nas últimas décadas, de programas socioculturais que têm a música como eixo de suas ações. Com resultados positivos, muitas dessas ações já têm sua importância reconhecida, mas suas práticas, linhas sociopedagógicas e princípios metodológicos ainda carecem de divulgação, de discussão e de compartilhamento com iniciativas similares e com o meio acadêmico. Suas histórias, seu repertório de experiências, seus desafios vencidos e suas metas futuras devem ser objeto de reflexão e de análise para que uma rede de apoio mútuo e de intercâmbio possa ser criada e para que projetos iniciantes tenham subsídios teóricos, técnicos e tecnológicos para sua implantação e fundamentação.

Para tornar mais conhecidas as iniciativas já existentes e incentivar a efetivação de novos programas e projetos, além de promover a criação de uma rede internacional de cooperação, a Santa Marcelina Cultura, organização social (OS) responsável pelo programa Guri Santa Marcelina, o Governo do Estado de São Paulo, a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID), por meio do Centro Cultural de Espanha em São Paulo e do programa ACERCA, e o SESC São Paulo realizam o Seminário Ibero-Americano de Educação Musical e Inclusão Social entre os dias 9 e 12 de novembro de 2009 no Teatro Anchieta, no SESC Consolação.